"Costa tinha a obrigação política de apresentar uma moção de confiança"

Durante o debate, o dirigente do PSD Hugo Soares disse que PCP e Bloco são a golden share que controla o governo de Costa. Ao DN, desafia Costa a enfrentar coligação em eleições
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A primeira pergunta que queria fazer-lhe é a mesma que Costa lhe fez no debate: o PSD não é incoerente ao apresentar uma moção de rejeição, embora seja ineficaz, e não apresentar alternativa?

Não. Apresentámos esta moção com a consciência de que não seria aprovada pela maioria negativa PCP, BE e PS. Não é um ato deliberado de derrube de um governo, é um sinal político de rejeição clara de um governo que consideramos ilegítimo, arriscado, experimentalista e que não corresponde aos anseios dos portugueses.

No último debate do programa, a coligação criticou o facto de Costa, então líder da oposição, ficar em silêncio no primeiro dia. Hoje, Passos fez o mesmo. Isto também não é incoerente?

Não é incoerente porque o cenário era completamente diferente. Passos ganhou as legislativas, era primeiro-ministro, e havia um challenger, que se propunha derrubar o governo. E tinha a obrigação de ir ao contraditório com o primeiro-ministro legítimo que ganhou eleições. Ora, evidentemente, este é um cenário completamente diferente, trata-se de um primeiro-ministro que - pela primeira vez na história da democracia portuguesa - é primeiro-ministro tendo perdido eleições. É um facto inédito e tudo isso muda a lógica do debate.

Mas Passos Coelho também é um challenger no sentido em que é candidato à sucessão de Costa.

Não sei se é candidato. Não é uma questão que se coloque agora. É evidente que o país clama para que Passos seja candidato a primeiro-ministro rapidamente, para que volte a normalidade democrática e o povo possa ter a governar quem escolheu. Se desta vez não foi possível, estou certo de que da próxima será.

Quando Costa perguntou qual a alternativa, muita gente na bancada da direita respondeu: "Eleições, eleições, eleições." É isso que defendem e começam a pedir?

Não. Não começamos hoje a pedir eleições, nem estamos a pedir eleições antecipadas. Para resolver um problema político que o próprio Costa criou nós propusemos uma alteração à Constituição que permitisse que houvesse já eleições. Julgo que ninguém duvida de que, se houvesse eleições hoje, Costa voltava a ser derrotado e por uma margem ainda maior. Esse era um cenário que já defendíamos no passado. E se é essa a resposta que Costa quer, então sim, que devolva a palavra ao povo.

A golden share através da qual disse que o PCP e o BE controlavam este governo, é uma golden share porque Bruxelas não gosta?

Não sei. Bruxelas não gosta das golden shares e nós também não. Não gostamos de ações privilegiadas, mas neste governo não restam dúvidas de que o PCP e o BE são detentores de um voto dourado. Quando eles quiserem, Costa vai de certeza para casa.

A última golden share polémica foi a do Estado na PT. A PT desmembrou-se. É isso que espera do acordo de esquerda?

Não. Quero que o governo governe a bem dos portugueses. E que faça o que tem de fazer pelo país. Quero, verdadeiramente, é que o governo não estrague e não desperdice os sacrifícios que os portugueses fizeram nos últimos quatro anos. É essa a obrigação de Costa e da esquerda unida. Tem de se constituir como uma maioria positiva. Por isso, tem de governar e de acordo com aquilo que são os anseios dos portugueses. Por isso Costa tinha obrigação política de apresentar hoje uma moção de confiança. Uma coisa é a esquerda, toda ela, rejeitar amanhã uma moção de rejeição, coisa bem diferente era vermos aqui a esquerda unida a dizer que apoia este governo, dando uma moção de confiança a António Costa. Ficou patente que não tem essa confiança para acreditar no resto da esquerda.

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